19 de outubro de 2015

Oceano caótico

     O navio em péssimo tempo sucumbia-se diante a maré viva e sombria. Os marinheiros em torno do mastro oravam e suplicavam piedade aos deuses de um oceano sem fé.
    - Capitão, o que faremos agora? - Amedrontado um jovem indagou ao mestre do barco.
     O capitão, exausto de tempestades, farto de seus medos e quase se entregando a fraqueza respondeu subitamente diante do caos:
     - Se o marinheiro tem fé ore, se o marinheiro estiver desesperado chore, se o marinheiro quiser morrer que abandone o navio, mas guarde consigo a coragem que te levaste até aqui, pois será ela que será honrada ao mérito quando estivermos em solo firme.
    Calado o jovem se pôs ao posto de um mastro e permaneceu em silêncio até que a tempestade se amenizasse.

    B. Bellato

24 de setembro de 2015

Amor em tempos de Crise

     A impressão que tenho dos ultimos tempos da minha vida é de que caminhamos em círculos. Não apenas na situação ecônomica atual como na imprescindível evolução tecnológica as nossas mudanças de humor e de personalidade ficam apenas dentro de outro conjuntos de bobagens e assuntos supérfluos a serem retradados no cotidiano da familia brasileira.
     O importante são os ajustes fiscais, os julgamentos corruptos, a alta massiva e contínua do dólar e os macetes do governo para tentar nos arrancar a dignidade que nos resta. E o amor se esconde entre os perfis do facebook, os match's do tinder ou uma trepada qualquer que se encontra em aplicativos mais sórdidos. Prazer, mundo real.
     É importantíssimo dizer que a visão ja se embranquece, a droga é acessível e o mundo anda se enquandrando em esteriótipos tão prepotentes quanto os argumentos da estabilidade dos mesmos. Mas não adianta mais. Já fomos entonteamente e espontaneamente atingidos por essa big Apple.
     Vamos aguardar. Esperar a crise se estabilizar mais um pouco e esperar amores idealizados cairem do céu assim como a Ibovespa cai a todo instante neste início de primavera de 36°. Afinal, se existe amores em tempos de crise, também existirão calorosas paixões.

B. Bellato
  

14 de setembro de 2015

Dados

     Por mais que se faça boas ações na medida em que abrem as possibilidades durante o cotidiano o nosso espírito tende a carregar diversos vícios dos quais nós como humanos nem nos damos conta.
     Se faz de tudo para acertar, mas os dados ainda continuam a dar azar quando arremessados no tabuleiro da verdade que ganhamos todos os dias quando nos acordamos. Perder é tão rotineiro quanto dormir. E eu durmo.
     Durmo com medo de não conseguir curar minhas chagas espirituais abertas nesta vida de lamúria. Durmo para tentar entender como a fé sucumbiu-se e não voltou como era antigamente. Durmo para fugir dos desencarnados que tentam me rodear ou dos encarnados que me cercam com falsas promessas e invejas.
     Dormir faz mais sentido que viver agora, pois nos sonhos há aqueles que me reencontram e que me façam agir e seguir em frente, mesmo com essa sensação de solidão contínua que toma chá mate comigo neste maluco inverno chuvoso.
     Dormindo bem ao menos prossigo arremessando os dados no tabuleiro. Ainda haverá um dia onde irei ganhar as dúzias completas nas apostas da felicidade.

     B. Bellato