13 de março de 2015

Epifania

      Vi uma muda de violeta aos prantos hoje. Seca, amarelada, suplicava por água sobre um mormaço sem graça. Agradecia o astro rei ter dado uma trégua do infernal calor dos últimos dias. Mas acima de tudo já sabia de seu destino. A morte. Nao alimentei a muda. Não alimentei a esperança.
     Por mais insensato que isso possa ser imaginado, alimentá-la trairia consigo a prolongação do concreto. E entre as raízes molhadas a muda agradeceria, mesmo sabendo que sua morte já estava sendo consumada.
     A maior epifania da vida é saber que tudo tem seu devido fim. E por mais que você tente lutar contra o redento da ordem, o fim sempre se anuncia sobre a imensidão dos fatos errôneos de aceitá-lo.
     Os fins podem nem sempre justificar os meios. Mas é pelos meios que podemos compreender que fins existem. Por quê? Porque é a ordem da vida.
     Apesar da piedade em que sinto de matar uma tal violeta que existe dentro de mim, não suplico mais por um gole de esperança.

B. Bellato

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