14 de outubro de 2011

Rock in Rio - Eu fui [Parte 02 - Episódio 10]



Eram dez da manhã e a cidade do Rock abriria só às duas da tarde, era fato de que precisaríamos passar o tempo fazendo algo. Aliás, algo decente, porque o que mais tinha na fila eram pessoas se divertindo.  Assim, deste modo, começamos a bater aquele papo sem nexo, nem assunto em especial, estava calor demais. Lilian e Aline compraram dois guarda-chuvas pretos, mas não para entrar no festival, eram apenas para nós permanecermos embaixo daquele Sol escaldante.
     As conversas tinham fim, mas olhando para o relógio, vimos que uma hora ali naquela fila eram apenas quinze minutos nos ponteiros dos ditos cujos. Conseguimos cortar alguns metros de fila, pois um dos organizadores do que chamaram de “fila”, estavam pedindo para que ficássemos atrás de uma grade de proteção, mas não havia grades ali, assim fomos cortando a fila até encontrarmos uma grade, e deu certo.
No horário de almoço (o que chamamos de, em um dia normal) trocava SMS com minha irmã e fiquei sabendo um pouco da vida de cada um que estava comigo naquela multidão. Também rimos com um sósia do Axl, Miriam foi até tirar foto com a caricatura (Que nem era tão parecido assim). Comi um saco de salgadinhos e um suco de caixinha (Muito ruim por sinal). A fila começava a andar aos poucos.
Aproximadamente à uma e meia da tarde, chegamos ao que chamávamos de “curva da esperança”, vimos nela que estávamos bem próximos da cidade do rock, mas ainda demoraríamos. Vi uma ambulantes vendendo pilhas (Até que enfim iria resolver um problema), resolvi comprar um par, pelo menos estaria seguro de que a bateria iria durar o dobro de tempo.
A partir dessa “curva da esperança” não havia filas e sim um tumulto, cercados de grades. Nele estavam pessoas gritando, cantando, jogando sutiãs para cima (Sim, isso aconteceu), gritando palavrões para as câmeras da televisão e o que eu achei mais hilário eram papéis de igrejas evangélicas criticando o festival com versículos da Bíblia. Estes papéis que estavam jogados ao chão e ninguém liam, eram mais um dinheiro jogado fora no que poderia ser doado para alguma caridade, enfim, religiosos ignorantes que não pensam...
Três e meia da tarde. Passamos a multidão e entramos no que já chamavam de Cidade do Rock, fomos parados mais umas duas vezes para revistas (uma em um detector de metais e outra para as bolsas). Entre elas, consegui passar com a garrafa d’água, o que era difícil. Tiramos algumas fotos no logotipo do Rock in Rio, e vimos que o Palco Mundo, realmente era muito grande.
O recinto ainda estava vazio. Dava para darmos uma passada no banheiro, que por sinal era gigante, de dez a quinze metros de mictório. Após tirarmos a água do joelho, corremos para o Palco Mundo. Ficamos do lado esquerdo do palco, praticamente a três ou quatro metros da grade de proteção, era uma visão excelente, só que eram quatro horas da tarde, e os shows só começariam às sete!
Sentamos, comemos, cochilamos sentados, presenciamos discussões, estouros de manadas, vimos algumas músicas do Palco Sunset no telão, ensaio de fogos de artifícios e fogos indoor no palco e tudo que se relacionava aos últimos preparativos. Os calcanhares já estavam doloridos, as costas começavam a doer, as pernas já estavam cansadas, e o relógio era o mesmo da fila. Sorte minha que não estava com dores de cabeça, muito pelo contrário, estava com um frio na barriga causado pela ânsia de estar naquele lugar, sentir aquela energia. Após vendedores de água mineral, fraldas geriátricas voando, gritos histéricos quando bandas de rock como Iron Maiden e Guns n’ roses que passavam no telão nos trailers de espera de shows, finalmente às 6h50min o show do Detonautas começava.
As pessoas começavam a apertar, mas nada comparado ao que eu passaria algumas horas depois. Todos pulavam, cantavam e gritavam, os melhores momentos desse show foram quando Tico Santa Cruz se referiu ao governo brasileiro e todos mandaram Sarney tomar no cu, quando Tico cantou Raul Seixas e ao final do show quando soltaram Smells Like Teen Spirit do Nirvana, onde todos cantaram e pularam, foi suficiente para se arrepiar.
A multidão no show da Pitty já começava a apertar ainda mais, a empurrar para frente e parar trás, Pitty em um momento do show disse que estávamos mais apertados que nos outros dias, talvez ela tivesse razão, mas a razão dela se esgotou quando ela olhou com um olhar satânico para a platéia soltando uma das piores frases para se ouvir no meio de cem mil pessoas: “Quem tá com sede de abrir uma rodinha aí?”. Os melhores momentos do show de Pitty foram quando ela cantou Equalize e mais um cover de Smells Like Teen Spirit do Nirvana, agora sim cantado e tocado pela banda.
Enfim, os shows internacionais haviam acabado. E neles só havia permanecido Aline comigo. Meire, Lilian, Adiel e seu irmão Antonio foram todos para trás, pois não agüentaram ser esmagados pela multidão. Estávamos agora esperando Evanescence, e nesse meio tempo de show para show, algumas pessoas passaram mal pelo aperto e tiveram que ser retiradas da multidão. Minha pressão arterial subiu, senti um pouco de falta de ar, mas nada que com um pouco de água e paciência não resolvesse.
Amy Lee entrava no palco, mas minha calma perante o povo já havia acabado, foi realmente difícil de me concentrar no meio de tantos homens sujos, melados de suor que gritavam na segunda música de Evanescence: “Sai logo do palco piranha, biscate...” , entre outros adjetivos que eu nem quero citar aqui. Fora que garrafas cheias de urina já voavam por nossas cabeças sem ao menos percebemos. Apesar dos pesares ainda consegui quase chorar ouvir My Immortal. E Amy Lee também estava boa nos vocais, apesar das críticas que ouvi depois de voltar para minha cidade. O som da cidade do rock não era o mesmo da transmissão da televisão, lá o som era bem melhor, e infelizmente a maioria do público que assistiu pela televisão criticou as bandas que tocaram no dia 02.
Quando o show do Evanescence havia acabado. Eu e Aline já havíamos sido empurrados um pouco para trás, e o pessoal mais forte que queria ver o System of a Down de perto já havia se colocado em nosso lugar. Copos de água mineral eu já tomara uns dois ou três, sem eles era impossível sobreviver naquele caos. Agora estava eu enviando mensagem para a minha família pelo celular esperando o show de System of a Down com o toba na mão, pois era um dos mais baixos onde estava localizado e ainda estava com uma mulher, da qual estava mais relaxada que eu.
Só restava um copo da água em minha mão e a esperança de sobreviver a guerra de corpos para eu ver Dj Ashba tocando os primeiros acordes de Chinese Democracy.

Continua...

B. Bellato (vulgo O Bellatore).

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