Eram
dez da manhã e a cidade do Rock abriria só às duas da tarde, era fato de que
precisaríamos passar o tempo fazendo algo. Aliás, algo decente, porque o que
mais tinha na fila eram pessoas se divertindo. Assim, deste modo, começamos a bater aquele
papo sem nexo, nem assunto em especial, estava calor demais. Lilian e Aline
compraram dois guarda-chuvas pretos, mas não para entrar no festival, eram
apenas para nós permanecermos embaixo daquele Sol escaldante.
As
conversas tinham fim, mas olhando para o relógio, vimos que uma hora ali
naquela fila eram apenas quinze minutos nos ponteiros dos ditos cujos.
Conseguimos cortar alguns metros de fila, pois um dos organizadores do que
chamaram de “fila”, estavam pedindo para que ficássemos atrás de uma grade de
proteção, mas não havia grades ali, assim fomos cortando a fila até
encontrarmos uma grade, e deu certo.
No horário
de almoço (o que chamamos de, em um dia normal) trocava SMS com minha irmã e
fiquei sabendo um pouco da vida de cada um que estava comigo naquela multidão.
Também rimos com um sósia do Axl, Miriam foi até tirar foto com a caricatura (Que
nem era tão parecido assim). Comi um saco de salgadinhos e um suco de caixinha
(Muito ruim por sinal). A fila começava a andar aos poucos.
Aproximadamente
à uma e meia da tarde, chegamos ao que chamávamos de “curva da esperança”,
vimos nela que estávamos bem próximos da cidade do rock, mas ainda demoraríamos.
Vi uma ambulantes vendendo pilhas (Até que enfim iria resolver um problema),
resolvi comprar um par, pelo menos estaria seguro de que a bateria iria durar o
dobro de tempo.
A
partir dessa “curva da esperança” não havia filas e sim um tumulto, cercados de
grades. Nele estavam pessoas gritando, cantando, jogando sutiãs para cima (Sim,
isso aconteceu), gritando palavrões para as câmeras da televisão e o que eu achei
mais hilário eram papéis de igrejas evangélicas criticando o festival com versículos
da Bíblia. Estes papéis que estavam jogados ao chão e ninguém liam, eram mais
um dinheiro jogado fora no que poderia ser doado para alguma caridade, enfim,
religiosos ignorantes que não pensam...
Três e
meia da tarde. Passamos a multidão e entramos no que já chamavam de Cidade do
Rock, fomos parados mais umas duas vezes para revistas (uma em um detector de
metais e outra para as bolsas). Entre elas, consegui passar com a garrafa d’água,
o que era difícil. Tiramos algumas fotos no logotipo do Rock in Rio, e vimos
que o Palco Mundo, realmente era muito grande.
O
recinto ainda estava vazio. Dava para darmos uma passada no banheiro, que por
sinal era gigante, de dez a quinze metros de mictório. Após tirarmos a água do
joelho, corremos para o Palco Mundo. Ficamos do lado esquerdo do palco,
praticamente a três ou quatro metros da grade de proteção, era uma visão
excelente, só que eram quatro horas da tarde, e os shows só começariam às sete!
Sentamos,
comemos, cochilamos sentados, presenciamos discussões, estouros de manadas, vimos
algumas músicas do Palco Sunset no telão, ensaio de fogos de artifícios e fogos
indoor no palco e tudo que se relacionava aos últimos preparativos. Os calcanhares
já estavam doloridos, as costas começavam a doer, as pernas já estavam
cansadas, e o relógio era o mesmo da fila. Sorte minha que não estava com dores
de cabeça, muito pelo contrário, estava com um frio na barriga causado pela ânsia
de estar naquele lugar, sentir aquela energia. Após vendedores de água mineral,
fraldas geriátricas voando, gritos histéricos quando bandas de rock como Iron
Maiden e Guns n’ roses que passavam no telão nos trailers de espera de shows,
finalmente às 6h50min o show do Detonautas começava.
As
pessoas começavam a apertar, mas nada comparado ao que eu passaria algumas
horas depois. Todos pulavam, cantavam e gritavam, os melhores momentos desse
show foram quando Tico Santa Cruz se referiu ao governo brasileiro e todos mandaram
Sarney tomar no cu, quando Tico cantou Raul Seixas e ao final do show quando
soltaram Smells Like Teen Spirit do Nirvana, onde todos cantaram e pularam, foi
suficiente para se arrepiar.
A
multidão no show da Pitty já começava a apertar ainda mais, a empurrar para
frente e parar trás, Pitty em um momento do show disse que estávamos mais
apertados que nos outros dias, talvez ela tivesse razão, mas a razão dela se
esgotou quando ela olhou com um olhar satânico para a platéia soltando uma das
piores frases para se ouvir no meio de cem mil pessoas: “Quem tá com sede de
abrir uma rodinha aí?”. Os melhores momentos do show de Pitty foram quando ela
cantou Equalize e mais um cover de Smells Like Teen Spirit do Nirvana, agora
sim cantado e tocado pela banda.
Enfim,
os shows internacionais haviam acabado. E neles só havia permanecido Aline
comigo. Meire, Lilian, Adiel e seu irmão Antonio foram todos para trás, pois
não agüentaram ser esmagados pela multidão. Estávamos agora esperando
Evanescence, e nesse meio tempo de show para show, algumas pessoas passaram mal
pelo aperto e tiveram que ser retiradas da multidão. Minha pressão arterial
subiu, senti um pouco de falta de ar, mas nada que com um pouco de água e paciência
não resolvesse.
Amy
Lee entrava no palco, mas minha calma perante o povo já havia acabado, foi
realmente difícil de me concentrar no meio de tantos homens sujos, melados de
suor que gritavam na segunda música de Evanescence: “Sai logo do palco piranha,
biscate...” , entre outros adjetivos que eu nem quero citar aqui. Fora que
garrafas cheias de urina já voavam por nossas cabeças sem ao menos percebemos.
Apesar dos pesares ainda consegui quase chorar ouvir My Immortal. E Amy Lee
também estava boa nos vocais, apesar das críticas que ouvi depois de voltar
para minha cidade. O som da cidade do rock não era o mesmo da transmissão da
televisão, lá o som era bem melhor, e infelizmente a maioria do público que
assistiu pela televisão criticou as bandas que tocaram no dia 02.
Quando
o show do Evanescence havia acabado. Eu e Aline já havíamos sido empurrados um
pouco para trás, e o pessoal mais forte que queria ver o System of a Down de
perto já havia se colocado em nosso lugar. Copos de água mineral eu já tomara
uns dois ou três, sem eles era impossível sobreviver naquele caos. Agora estava
eu enviando mensagem para a minha família pelo celular esperando o show de
System of a Down com o toba na mão, pois era um dos mais baixos onde estava
localizado e ainda estava com uma mulher, da qual estava mais relaxada que eu.
Só
restava um copo da água em minha mão e a esperança de sobreviver a guerra de
corpos para eu ver Dj Ashba tocando os primeiros acordes de Chinese Democracy.
Continua...
B.
Bellato (vulgo O Bellatore).
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