"Preciso sorrir e não chorar, pois quando eu tiver um grande sorriso de verdade,
eu chorarei de felicidade."
Muitas
vezes o destino nos prega peças das quais não estamos preparados, iniciei minha
jornada de trabalho, finalmente, como sempre quis, mas infelizmente não era o
que esperava. Trabalhar numa confecção não é fácil, principalmente quando se
ganha o suficiente para você perceber que está sendo usado e não gosta nada
disso. O enfoque desta postagem talvez seja o meu recente trabalho, mas não
quero deixar certas situações que presenciei durante uma semana ser esquecidas
pelo mais novo escravo capitalista que aqui vos fala.
Em
meu setor, trabalham muitas mulheres, não consegui contar ainda, mas aproximadamente
umas cinquenta. A maioria delas trabalha em pé, sendo que poderiam trabalhar
sentadas, em uma banqueta alta, ou até mesmo em algo mais confortável. As costureiras
que trabalham sentadas devem ter seus glúteos calejados, porque sentam em uma
cadeira parecida dessas de escritório só que de madeira. As mãos de todas são
praticamente calejadas, com unhas quebradas e com curativos.
É necessário
levar comida para o trabalho, ou seja, é necessário sempre cozinhar, a não ser
que você queira comprar uma marmita por dia, o que deve sair o preço do salário
delas no final do mês. As paleteiras (carrinhos de leva e traz) com as quais
trabalho, são todas ferradas, e necessitam de conserto, mas enquanto uma é
consertada, as outras devem ser usadas como estão. Os panos que são usados para cobrir as gaiolas
de calças jeans possuem marcas de urina e fezes de gatos e ratos que adentram o
barracão durante a noite.
Já o
transporte, é descontado 6% do nosso salário, algumas pessoas ainda conseguem o
ônibus da própria empresa, mas eu tenho que acordar todo dia às cinco da manhã
para pegar dois ônibus da linha urbana de Sorocaba para chegar no horário certo
no endereço correto. Isso nem é tudo, a
mais e mais assuntos que eu poderia citar aqui, mas prefiro pensar agora na
folha de pagamento. A maioria dos funcionários recebe bem menos que um salário
mínimo, livre de contribuições.
Depois
que chego em casa, após dez horas de trabalho diário, penso no quanto estudei,
e no quanto que eu trabalhei, para ganhar uma miséria no fim do mês, sendo que
sou formado em um curso técnico de logística. Sim, é assim que funciona esse
mundo injusto, enquanto os que não sofrem estão alegres e felizes, os que
sofrem para ter uma vida melhor, acabam se ferrando mesmo assim.
Em
plena semana do dia da mulher, percebo que desde aquela manifestação que deu
origem a data, não foi mudado muita coisa dentro das confecções espalhadas pelo
mundo, minhas amigas de trabalho não receberam nem se quer uma rosa de
presente, e nem um banco para descansar os calcanhares, imagino que a chama daquele
incêndio que se sucedeu em Nova York, no ano de 1911, matando 146 costureiras,
ainda existe em cada uma daquelas que trabalham comigo, sempre matando seus
sentimentos, sua autoestima, seus desejos, sua estrutura física, e o principal,
sua satisfação em ser quem é. Em ser uma mulher forte. Ao menos eu desejo
parabéns a elas através deste espaço e desta singela homenagem, não muito
agradável como puderam ver.
B. Bellato
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