14 de fevereiro de 2013

Deixo


Eu deixo as pessoas irem, deixo os novos, os velhos, os simpáticos e carrancudos. Deixo os gordos e magrelas, deixo os cães, os gatos não são necessários deixá-los, ele já me deixam por natureza. Deixo o salário voar, as contas a pagar, o cigarro aceso e o café preto exalando seu cheiro amargo.  Deixo a dor de barriga, a fome, o sono, não tenho mais sono. Deixo aquela cueca samba-canção de seda barata, assim como deixo a de algodão fino italiano, eu apenas deixo.
Deixo o cabelo desleixado, as unhas roídas, o beijo lembrado. Deixo o peito doendo, a cabeça à mil e o rosto marcado, eu deixo. Deixo os pés descalços, a vontade de colher fruta no pé, a vontade de comer fruta no pé, disse mesmo que deixo as vontades? A vontade é a fragilidade dos homens fortes, talvez a deixe um dia.
Deixo ele ir, deixo ela ir, ontem já deixei, amanhã eu deixarei. Deixo, deixas, deixam. Eu deixo a vida tomar rumos, deixo o universo trabalhar sozinho, deixo meu mundo, aquele do qual ainda nem sei se pertenço direito. Eu o deixo, ou ele deixa-me? Não compreendo, não importo, eu apenas deixo os que sempre querem seguir em frente...

B. Bellato

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