Eu deixo as pessoas irem, deixo os novos, os velhos,
os simpáticos e carrancudos. Deixo os gordos e magrelas, deixo os cães, os
gatos não são necessários deixá-los, ele já me deixam por natureza. Deixo o
salário voar, as contas a pagar, o cigarro aceso e o café preto exalando seu
cheiro amargo. Deixo a dor de barriga, a
fome, o sono, não tenho mais sono. Deixo aquela cueca samba-canção de seda
barata, assim como deixo a de algodão fino italiano, eu apenas deixo.
Deixo o cabelo desleixado, as unhas roídas, o beijo
lembrado. Deixo o peito doendo, a cabeça à mil e o rosto marcado, eu deixo.
Deixo os pés descalços, a vontade de colher fruta no pé, a vontade de comer
fruta no pé, disse mesmo que deixo as vontades? A vontade é a fragilidade dos
homens fortes, talvez a deixe um dia.
Deixo ele ir, deixo ela ir, ontem já deixei, amanhã
eu deixarei. Deixo, deixas, deixam. Eu deixo a vida tomar rumos, deixo o
universo trabalhar sozinho, deixo meu mundo, aquele do qual ainda nem sei se
pertenço direito. Eu o deixo, ou ele deixa-me? Não compreendo, não importo, eu
apenas deixo os que sempre querem seguir em frente...
B.
Bellato
Nenhum comentário:
Postar um comentário