São
3 da manhã. Vou dormir agora. Mas sem vontade, sem vontade de quase tudo. A
terça-feira gorda chega a cada momento em que me pego pensando sobre a
banalidade dos sentimentos. Já é segunda-feira, veja só, e eu ainda nem cantei
aquela marcha de que tanto gosto. Não por desdém, mas por acontecimentos que
não merecem o hino dos arlequins. Parece que é apenas sonho, que o carnaval tão
desejado não basta de mais uma quinquilharia, que o ano não começou, que novos
dias chegaram e que novos rumos virão. O homem continua igual, o homem continua
doendo.
Não,
não se assuste melindrosa, o folião sempre sofre, sofre sorrindo em trios
elétricos, sofre bêbado em sarjetas sujas de serpentinas, ou sofre quieto, no
divã de casa, com o rádio ligado, ouvindo Miranda. Pode ser sábado, domingo,
segunda ou terça, e ele sempre estará sofrendo, usando aquela velha máscara veneziana
sorridente, mesmo que estivesse chorando por trás dela. Dói saber, dói viver.
Já
se passaram dois dias de dor, faltam dois. Dois dias de fogo, de reluta e
sofrimento. Pois quando quarta chegar e deixar-nos cinzas, saberemos que a
quaresma nos fará melhor. Só não choremos. Se não conseguimos sorrir, apenas
guardemos o que nos resta de audácia e de vivencia dentro de nossa pequena
grande alma. Guardemos as lembranças de outros carnavais, cenas de heróis
sorrindo disfarçadamente para as odaliscas, de palhaços espertos, de policiais
incertos, e do faz de conta que sempre quisermos que existisse. Afinal, no
carnaval brincamos do que mais queremos ser.
Mas
especialmente nestes dias, prefiro aconchar-me em meu travesseiro, esperar a
quarta de cinzas, sentir o choro engolido, e lembrar que dias melhores virão,
um dia virão, não com a libertinagem do carnaval, mas com a fé que se obtém da
quaresma, pois Deus sempre nos deixa brincar de ser feliz.
B. Bellato
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