Paro-me observando algumas fotografias alheias em um
sábado frio, vazio. Atento-me pelas cores vivas, pelos ângulos, mas admiro
mesmo os sorrisos. Em um mundo compartilhado como o meu, no novo século se
mostrar feliz é necessário diante das armadilhas em que a sociedade te arma a
todo tempo. Devo dizer em que não me sinto a vontade com alguns sorrisos, as
pessoas já não sorriem verdadeiramente há tempos, mas compartilhar sorrisos
falsos já me indigna.
Hoje me questionaram sobre ser frio, infeliz, e sensitivo
demais. Disse que é do meu ser, da minha convivência com os outros, da minha
rotina, mas não, ser assim não vem da minha essência. Minha essência grita em
busca de prazeres, minha alma sempre busca sorrir, mas sorrir pra mim tem que
ser verdadeiro, sorrir como alguém que sente em seu próprio corpo aquilo que te
faça satisfeito.
As pessoas já andam vendendo sorrisos embalados e
rotulados em bares de comédia. Às vezes sorrio demais vendo televisão, meus
pais me recriminam, acham que eu sou bobo e escandaloso demais, onde já se viu
alguém rir com bobagens passadas em uma tela de LED? Calo-me. Sorrir hoje
também é proibido em casa.
Ultimamente sorrir já nem me faz bem, o sorriso já
deixou de ser uma expressão dos músculos da face de transmissão de alegria para
um simples gesto de correspondência a bobagens antitemperamentais ditas por qualquer
criatura que se ache na vontade ou utilidade pública de criticar, ofender,
comentar ou chamar alguém.
Mas ainda existem sorrisos verdadeiros, podem até não
serem aqueles das fotografias do inicio do texto, mas são os meus sorrisos
bobos olhando para a TV, os sorrisos de crianças quando ganham o presente que
mais queriam, os sorrisos dos velhinhos brincando com seus gatos, os sorrisos
da garota apaixonada por aquele cara que te passa confiança ou aqueles sorrisos
das pessoas que acabam de ganhar uma nova oportunidade de emprego para o sustento
de sua família.
Sorrisos verdadeiros nunca vão acabar, mas já estão
extintos. Espero daqui alguns anos, não ver uma placa dessas feitas à mão
pendurada sobre os ombros de um palhaço de rua escrita: “Compra-se sorrisos
verdadeiros”.
B. Bellato
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