25 de março de 2013

Sorrisos


Paro-me observando algumas fotografias alheias em um sábado frio, vazio. Atento-me pelas cores vivas, pelos ângulos, mas admiro mesmo os sorrisos. Em um mundo compartilhado como o meu, no novo século se mostrar feliz é necessário diante das armadilhas em que a sociedade te arma a todo tempo. Devo dizer em que não me sinto a vontade com alguns sorrisos, as pessoas já não sorriem verdadeiramente há tempos, mas compartilhar sorrisos falsos já me indigna.
Hoje me questionaram sobre ser frio, infeliz, e sensitivo demais. Disse que é do meu ser, da minha convivência com os outros, da minha rotina, mas não, ser assim não vem da minha essência. Minha essência grita em busca de prazeres, minha alma sempre busca sorrir, mas sorrir pra mim tem que ser verdadeiro, sorrir como alguém que sente em seu próprio corpo aquilo que te faça satisfeito.
As pessoas já andam vendendo sorrisos embalados e rotulados em bares de comédia. Às vezes sorrio demais vendo televisão, meus pais me recriminam, acham que eu sou bobo e escandaloso demais, onde já se viu alguém rir com bobagens passadas em uma tela de LED? Calo-me. Sorrir hoje também é proibido em casa.
Ultimamente sorrir já nem me faz bem, o sorriso já deixou de ser uma expressão dos músculos da face de transmissão de alegria para um simples gesto de correspondência a bobagens antitemperamentais ditas por qualquer criatura que se ache na vontade ou utilidade pública de criticar, ofender, comentar ou chamar alguém.
Mas ainda existem sorrisos verdadeiros, podem até não serem aqueles das fotografias do inicio do texto, mas são os meus sorrisos bobos olhando para a TV, os sorrisos de crianças quando ganham o presente que mais queriam, os sorrisos dos velhinhos brincando com seus gatos, os sorrisos da garota apaixonada por aquele cara que te passa confiança ou aqueles sorrisos das pessoas que acabam de ganhar uma nova oportunidade de emprego para o sustento de sua família.
Sorrisos verdadeiros nunca vão acabar, mas já estão extintos. Espero daqui alguns anos, não ver uma placa dessas feitas à mão pendurada sobre os ombros de um palhaço de rua escrita: “Compra-se sorrisos verdadeiros”.

B. Bellato

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