12 de abril de 2013

Worldly


Não gostaria que o tornasse mais um poema. Momentos bons se guardam dentro de lugares amedrontadores em nossas mentes, por quê? Porque momentos tão raros e perfeitos devem ser escondidos onde ninguém tentará encontrá-los.
Não era uma noite qualquer, em uma cidade que não era qualquer, era especial, independente se meus sapatos estivessem sujos, se minha camisa não fosse mais nova, se estivesse ou não de barba feita e cabelo cortado, o momento continuaria sendo especial. O cansaço mal atrapalhou, momentos que se tornam perfeitos deixam suas imperfeições como detalhes essenciais.
Permanecia apenas inquieto, olhando para seus olhos castanhos, admirando seu sorriso, ouvindo sua voz, coisas que não acostumamos prestar atenção, não em qualquer pessoa. Não era qualquer pessoa, não mais. E ao perceber em um décimo de segundos também me peguei sorrindo, não para aquele sorriso, mas para aquela alma, que deixava para mim uma porta entreaberta, e um ar de bem vindo. Aproximou, beijamos.

Oh Captain, but he’s worldly!

Não é um beijo qualquer que se dá dentro de um cinema ou dançando bêbado dentro de uma danceteria. Nossas línguas já ultrapassavam as más línguas, e quem diria, nada mais confortava naquele momento além de um abraço. Não foram os beijos que me deixaram extasiados, não foi a excitação que me tirou do controle da situação, meu problema estava no seu jeito de se portar, de ver os pequenos detalhes da vida de outra maneira, de entender que as linhas do tempo de uma pessoa podem acabar a qualquer momento. Dialogamos as experiências do passado, interligamos nossos caminhos, deixamos clara nossa posição. Não havia maior clareza. Clareamos um futuro.

Oh Captain, but he’s worldly!

Não mais refletia, apenas me divertia, a noite era minha, era nossa. Ao menos por uma noite a sensação em estar livre fazia a diferença entre tudo em que podia me imaginar. Enxerguei o meu futuro. Consegui me enxergar. Mas como não fosse muito, o Sol deu suas caras, e como dois morcegos, impertinentes de suportar toda aquela felicidade que a luz do Astro trazia sobre os céus, preparamos a fuga.
Enfim tomamos o trem. O trem em que inevitavelmente deixava-me apreensivo. Conseguimos chegar a um destino, mais um entre os subjetivos e noturnos. Próximo ao descanso, ainda entontecido da noite, deparei ali com o que mais desejava naquela rotina que podemos chamar de vida.

Oh Captain, but he’s worldly!

Aconteceu, simples assim, gostoso. O que importava não era que acontecesse, era estar ali, parado, entontecido, ainda olhando para seu sorriso largo, seus olhos castanhos, seu corpo moreno, suado, dando brilho à sua essência, que causava-me desejo.
Agradeci, a Deus, ao Universo, e ao tempo, que fazia de nossas sete horas, uma noite não dormida. Agradeci às nuvens pela chuva, a chuva deixou-me atento ali, que estava na hora de começar a vivenciar tudo de outra maneira. Fazer de um conto de fadas, apenas uma crônica. Mas não, o desejo ainda soou mais forte e fez com que o cavalo branco continuasse parado na porta do hotel, esperando o casal real se decidir para onde ir em uma tarde ensolarada.

Oh Captain, but he’s worldly!

Após o banquete real, uma conversa longa, um chá das cinco, regado a risos, assim poderia admirar os últimos momentos daquele seu rosto divino. Somos todos perfeitos aos olhos de Deus, e ali, enxergava a perfeição.
Recordei-me do banho, do sono, da cama, dos beijos, do trem, das despedidas de amigos de uma noite, dos conselhos de amigos de uma noite, das quatro catracas, do celular na mão, do anseio em que me transtornava. Apenas recordei, e em questão do mesmo tempo em que demorei em me recordar, voltei à realidade, já era um adeus. Pedi para que não aguardasse minha partida, partir sozinho para a guerra é bem menos doloroso do que dar um aceno incerto de adeus.

And then, the sailor questions his captain about your choice:
- Oh Captain, but he’s worldly!
The captain just smiled replying:
-  It's too late to not anchor at the pier of memories.


B. Bellato

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