Chove. O que me resta depois da libertação de meus
anseios sobre a vida, mesmo que por pouco tempo, são as memórias recentes, que
possuem a inacreditável beleza do despertar de sentimentos. Sofro. Pedi a Deus
certa vez que antes sofresse de amor, do que de solidão, assim, sofro sorrindo.
Sorrio porque ainda não acabou, mesmo com a tristeza em saber que serei
desprezado pelos mares do mundo, eu sorrio. Águas limpam. Dera eu satisfazer-me
das águas.
Fatos como esse, que surgem em nossas vidas como a
chuva, muitas vezes inesperadamente, fazem os pequenos detalhes serem
importantes, e os minutos que precisam ser horas acabam sendo segundos com a
mágica do deslumbramento. O tempo da mesma forma que cura também abre grandes
feridas. Mas aceito, sofro sorrindo. O que importa realmente não é o silencio
das incertas despedidas, o que importa são os sorrisos dos retornos que nos
restam, que cada vez mais raros, tem mais importância. Sorrisos são obras
divinas, correspondências de alma para alma, sorrindo encontro o teu abraço...
No abraço encontro o acalento de meu ser, que
inseguro sobre o mundo, tem em seu peito o amor mais mundano, mesmo sendo o
mais quente vivenciado. Entre os teus sórdidos sentimentos, sei que também algo
esconde, só não aceita influências. E no abraço barganho minha mera ingenuidade
ainda de garoto e caipira por um pouco de experiência urbana. Assim conhecia
aos poucos teu mar, afinal a vida é um mar de contos.
Sussurrava em meus ouvidos “You’ll be fine”. Pode ser
que sim, mas não agora, não hoje, pois da mesma forma que o destino trouxe o
melhor pra mim, deixo para que o próprio tome suas reais providências sobre os
meus sentidos.
Ainda há tempo de aproveitar o pouco tempo que nos resta,
privo-me de debruçar sobre qualquer borrão de tinta e escrever banalidades
sofridas. Prefiro dançar contigo, mesmo que uma música e com os olhos cansados
de recusar teu “Move On”. Escrevo sim, mas escrevo meu destino em um
pergaminho, coloco-o dentro da maior garrafa de vidro em que encontrar e
ofereço-o à Iemanjá.
E enquanto as turbinas não serem ligadas, enquanto o
capitão não acender seu painel monitorado, enquanto a âncora não levantar do
cais, eu vou continuar tomando você como a melhor experiência que obtive até
agora. E sei que quando partir, eu vou sorrir, pois é o que devo fazer mesmo
sofrendo. Sorrir e agradecer.
B. Bellato
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