5 de junho de 2013

Os sisos

Optei por retirar os sisos... Optei simples assim, como se escolhe uma peça de roupa ou seleciona um produto de limpeza da prateleira da despensa. Posso ter escolhido ter perdido dois sisos, mas ainda permanece o juízo de que há coisas na vida da qual não optamos.
Vamos começar de outra maneira, perdi os sisos... Perdi como uma distração, como se perde as chaves do carro, se perde a paciência ou quando você mesmo se perde no transito feroz de uma cidade grande... Mas há perdas das quais não escolhemos.
Os sisos se foram, deixaram os pontos rudes, secos, desconfortáveis em minha mucosa inchada, lotada de insatisfações prestes a serem regurgitadas em qualquer sarjeta de uma esquina próximo àquele botequim que tanto gosto, ou serem exclamadas para alguma alma caridosa que tenha um bom ouvido e uma boa paciência. Os pontos me calaram, não só eles, o mundo me calou...
O mundo me fez assim, talvez belo externamente, com um semblante saudável, lotado de sorrisos, mas com pontos por dentro, pontos não só para fechar as feridas da boca como também as da alma.
Dera eu ter optado arrancar os pisos tortos da calçada da vizinhança, arrancar a contribuição sindical que nada serve de meu holerite, arrancar a sujeira do parlamento ou arrancar as decepções do passado.
Arranquei os sisos mesmo saudáveis, precisava de mais dor, opto pela dor, pelo caos astral, pela humanidade banalizada e por caminhos sem rumos. Opto pelos pontos na alma, abrir tais feridas afetariam o seguro e isolado dentro do meu eu. Ser covarde é questão de opção.


B. Bellato

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