23 de julho de 2013

Bossa Nova Zero Grau


Enquanto o carro abre-alas não engata a segunda marcha sobre o sambódromo, de nome riscado em Giz no piche do asfalto: “SONHO”, percebe-se no mundo dos afobados que romances não são adequados. Chega enfim o frio, o Devaneio dos desesperados, a ressurreição da Solidão. Enquanto as lembranças não tão tristes de verão ainda ultrapassam os lemas rotineiros de uma memória enrijecida, aguardo.
 Aguardo como um copo de pingado à metade sobre o gabinete de granito de uma madrugada veloz, ou talvez até como uma bossa nova ao encantar de um gringo sobre os laços e traços de um calçadão em Copa. Independente de posições ou sentidos, aguardo. Ainda não sabendo ao certo o que aguardar, eu só, entrego-me ao tempo o latejar das obras de meu espaço social. O tempo cura como os anti-inflamatórios, lembrando-os que não posso esquecê-los agora que fazem seis graus Celsius do lado de fora da janela pintada, desejo estar bem sobre os trinta e três graus em Novembro. 
Sobre o sentido inverso incubado aos sete cantos da América do Sul, em um país onde 3 e 33ºC andam de mãos dadas no caminho de tijolos amarelos também clamado como Ano,  aguardo. Talvez saiba o que aguardar, mas por intermédio dos seres convictos de que a vida só é eficaz depois dos sopapos do grandalhão Amor, ou da Senhorita afobada Paixão, prefiro não criar a bastarda triste da Desilusão que pari durante os últimos dias.
Teimoso insisto em dizer, pois de teimosia criamos a Bossa, que perdidos sobre as notas de Tom, Vinicius, João ou Nara, ainda creio que o vagar de uma certa garota com a graça de Esperança, criança traquina, surja sobre as flores tropicais de um destino que possa ser chamado de meu. Durante algum tempo, aguardo teimoso a primavera, ouço Bossa, danço só sobre o vento zero grau, e da Vida, velhinha ranzinza que nos atormenta o sono, ainda prossigo levando coça.




B. Bellato

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