Enquanto o carro abre-alas não engata a segunda
marcha sobre o sambódromo, de nome riscado em Giz no piche do asfalto: “SONHO”,
percebe-se no mundo dos afobados que romances não são adequados. Chega enfim o frio,
o Devaneio dos desesperados, a ressurreição da Solidão. Enquanto as lembranças
não tão tristes de verão ainda ultrapassam os lemas rotineiros de uma memória enrijecida,
aguardo.
Aguardo como
um copo de pingado à metade sobre o gabinete de granito de uma madrugada veloz,
ou talvez até como uma bossa nova ao encantar de um gringo sobre os laços e
traços de um calçadão em Copa. Independente de posições ou sentidos, aguardo.
Ainda não sabendo ao certo o que aguardar, eu só, entrego-me ao tempo o latejar
das obras de meu espaço social. O tempo cura como os anti-inflamatórios, lembrando-os
que não posso esquecê-los agora que fazem seis graus Celsius do lado de fora da
janela pintada, desejo estar bem sobre os trinta e três graus em Novembro.
Sobre o sentido inverso incubado aos sete cantos da América
do Sul, em um país onde 3 e 33ºC andam de mãos dadas no caminho de tijolos
amarelos também clamado como Ano, aguardo. Talvez saiba o que aguardar, mas por
intermédio dos seres convictos de que a vida só é eficaz depois dos sopapos do
grandalhão Amor, ou da Senhorita afobada Paixão, prefiro não criar a bastarda
triste da Desilusão que pari durante os últimos dias.
Teimoso insisto em dizer, pois de teimosia criamos a
Bossa, que perdidos sobre as notas de Tom, Vinicius, João ou Nara, ainda creio que
o vagar de uma certa garota com a graça de Esperança, criança traquina, surja sobre
as flores tropicais de um destino que possa ser chamado de meu. Durante algum
tempo, aguardo teimoso a primavera, ouço Bossa, danço só sobre o vento zero grau,
e da Vida, velhinha ranzinza que nos atormenta o sono, ainda prossigo levando
coça.
B. Bellato
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