Hoje apaguei os rascunhos das lições de um caderno
universitário, aprendi mais com as lições que a vida me proporciona nas noites
solitárias de uma casa noturna de quinta categoria. Aprendo com o tabaco seco
de um cigarro com gosto, com um café preto às sete da manhã ou com os olhares
de reprovação das bichas mais caretas de uma cidade de interior onde amar é
proibido depois das seis da tarde. Fodam-se as funções matemáticas, sejam elas
de que Grau forem.
Hoje sentei-me sobre a cama, ao acordar com o Sol
batendo em minha janela ainda fechada, e percebi que o mundo é mais do que
fumar algum baseado, trepar com alguma prostituta ou estudar anos para ser
doutor. O mundo é o simples toque de colocar os pés no chão gelado e com a
cabeça latejando ainda as batidas eletrônicas de uma noite nada inteligente, ouvir
um pardal piar alto na procura de qualquer porcaria que satisfaça sua fome.
Estamos vivendo, mesmo não olhando para o céu em um
momento onde Vênus quase beija a lua, e Saturno observa de longe, como o admirar
de um voyeur. Temos que comer, mesmo
quando não temos dinheiro para nos satisfazermos de lixo psico-cultural
produzido em massa, temos que beber, mesmo que não seja sua vodka russa
predileta. Temos que amar, mesmo que não seja a pessoa da qual vive sem você.
Sejamos mais sinceros. Enquanto pedimos por piedade,
a nossa fé se esconde entre o vivenciar do mundo em que nos encontramos.
Sejamos mais fortes, procuremos nossa fé onde o futuro exista sobre o que há de
melhor. Mesmo que o custo seja o caderno borrado, uma noite mal dormida ou mais
um pardal sobre a janela ao meio-dia.
B. Bellato
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