28 de outubro de 2013

O Sol das Três

Saí do trabalho às duas da tarde. Incomum aos dias de sábado. Foram mais de 48 horas desta semana. Meu corpo cansado pelas horas mal dormidas de sono, já suplicava por um banho e uma cama. Sorocaba fazia 30º C. Caminhei até o ponto de ônibus do centro, não estava tão cheio como frequentemente (Ao meio dia). Olhei para o aplicativo em meu celular, meu próximo ônibus seria apenas às 14:50. Eram 14:20. Tudo bem, já era de se esperar, mas nenhum ônibus se aproximava para levar-me ao terminal. Decidi fazer uma das simples loucuras da vida. Ir a pé para minha casa.
Já li em alguma fonte de informação, talvez até não tão confiável assim, que o Sol forte e o calor causavam delírios, felizmente não possui nenhum, apenas refleti, e refleti em como a vida não tem muito significado em momentos banais. Foram aproximadamente 40 minutos e mais de 3,5 km.
Iniciei a jornada pela Avenida São Paulo recordando-me de algumas noites acordados e me divertindo, lembrei-me de meu dever de matemática financeira e subitamente tive a ideia de ver meu saldo no caixa eletrônico do banco. Retirei um dos piores extratos da minha vida: R$ 3,25. E ainda faltavam 10 dias para meu próximo salário.
Prossegui pensando na possibilidade de um novo emprego, e na segurança do que ainda tenho, em proceder com o curso de finanças ou partir para veia artística que me persegue desde menino. O calor começou a me cansar, ainda faltava mais da metade do caminho.
A sede aumentava, a ira também. A pobreza tem seu lado bom, obter paciência com os processos da vida. Enquanto carros de luxo com seus vidros fumês e com o ar condicionado me ultrapassavam, eu andava vagarosamente nas ladeiras, mesmo com pressa de chegar em casa, pensei no meu futuro. Que futuro? Há a necessidade de se começar a fazer algo para melhorar algumas situações como a presente. Pensei nas minhas férias, em uma praia qualquer, em uma piscina qualquer,  ou mesmo em qualquer porcaria que me fizesse relaxar. Acelerei o passo, precisava chegar em casa antes das três ou meu esforço seria em vão.
Encontrei um mercado, gastei meus últimos centavos em um refresco de limão, já que não havia água nas geladeiras. A sensação térmica era tão alta e já estava tão ensopado de suor que só queria um banho gelado e uma samba canção. Queria conforto, conforto não só em um final de semana, conforto na vida.
Cheguei às 14h55min. Minhas pernas doíam, não sentia mais meus calcanhares, senti a breve sensação de que estava tendo uma miragem. Olhei para os portões de casa e me deu a súbita vontade de gritar segurando entre os ferros:
-Vida! Vida! Vida!
Vai que ela atendesse e me pedisse para entrar:
- Até que enfim, entre logo, venha tomar uma xícara de sinceridade!
Talvez a responderia em belo tom:
- Obrigado, mas prefiro algumas doses de dignidade...

Encontrei minhas chaves e decidi começar meu final de semana ouvindo Clapton. 

B. Bellato

Nenhum comentário: