Saí do trabalho às duas da tarde. Incomum aos dias de
sábado. Foram mais de 48 horas desta semana. Meu corpo cansado pelas horas mal
dormidas de sono, já suplicava por um banho e uma cama. Sorocaba fazia 30º C.
Caminhei até o ponto de ônibus do centro, não estava tão cheio como
frequentemente (Ao meio dia). Olhei para o aplicativo em meu celular, meu
próximo ônibus seria apenas às 14:50. Eram 14:20. Tudo bem, já era de se
esperar, mas nenhum ônibus se aproximava para levar-me ao terminal. Decidi
fazer uma das simples loucuras da vida. Ir a pé para minha casa.
Já li em alguma fonte de informação, talvez até não
tão confiável assim, que o Sol forte e o calor causavam delírios, felizmente
não possui nenhum, apenas refleti, e refleti em como a vida não tem muito significado
em momentos banais. Foram aproximadamente 40 minutos e mais de 3,5 km.
Iniciei a jornada pela Avenida São Paulo recordando-me
de algumas noites acordados e me divertindo, lembrei-me de meu dever de
matemática financeira e subitamente tive a ideia de ver meu saldo no caixa eletrônico
do banco. Retirei um dos piores extratos da minha vida: R$ 3,25. E ainda
faltavam 10 dias para meu próximo salário.
Prossegui pensando na possibilidade de um novo
emprego, e na segurança do que ainda tenho, em proceder com o curso de finanças
ou partir para veia artística que me persegue desde menino. O calor começou a
me cansar, ainda faltava mais da metade do caminho.
A sede aumentava, a ira também. A pobreza tem seu
lado bom, obter paciência com os processos da vida. Enquanto carros de luxo com
seus vidros fumês e com o ar condicionado me ultrapassavam, eu andava
vagarosamente nas ladeiras, mesmo com pressa de chegar em casa, pensei no meu
futuro. Que futuro? Há a necessidade de se começar a fazer algo para melhorar
algumas situações como a presente. Pensei nas minhas férias, em uma praia
qualquer, em uma piscina qualquer, ou
mesmo em qualquer porcaria que me fizesse relaxar. Acelerei o passo, precisava
chegar em casa antes das três ou meu esforço seria em vão.
Encontrei um mercado, gastei meus últimos centavos em
um refresco de limão, já que não havia água nas geladeiras. A sensação térmica era
tão alta e já estava tão ensopado de suor que só queria um banho gelado e uma
samba canção. Queria conforto, conforto não só em um final de semana, conforto
na vida.
Cheguei às 14h55min. Minhas pernas doíam, não sentia
mais meus calcanhares, senti a breve sensação de que estava tendo uma miragem.
Olhei para os portões de casa e me deu a súbita vontade de gritar segurando
entre os ferros:
-Vida! Vida! Vida!
Vai que ela atendesse e me pedisse para entrar:
- Até que enfim, entre logo, venha tomar uma xícara de
sinceridade!
Talvez a responderia em belo tom:
- Obrigado, mas prefiro algumas doses de dignidade...
Encontrei minhas chaves e decidi começar meu final de
semana ouvindo Clapton.
B. Bellato
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