25 de agosto de 2014

A página alba

   Admiro em conhecer quase nada do mundo. Quanto mais procuro mais sei que nada sei. Sob o escuro de um domingo vazio me pego na reflexão de quanto tempo não desabafo entre as folhas de papel almaço, ou as fontes arial em uma página alba e vazia.
   Sei porque não escrevo tanto. O mundo é vazio feito feito as páginas, e por mais que lutamos contra ela, rabiscando poemas de Drummond, prosas de Vinicius, ou até ousando aquarelar portinari sobre ela, sei que ela virará. Virará feito os cadernos do jovem universitário, das atas de reuniões dos executivos não renomados ou daquela agendinha de seu cotidiano de inférteis desafios contra a preguiça.
   As páginas viram porque a vida é aquele livro aberto, que escrevemos a cada momento, efêmero ou não, triste ou feliz, sozinho ou acompanhado. Precisamos aprender e saber de que a vida nem sempre pode ser colorida todo dia.
   O papel pode permanecer lotado de emaranhados números e cifrões em negativo, pendências e cobranças de pessoas que suportamos ou até mesmo do atestado de óbito daquela pessoa que você não se imagina sem. Relaxa. A página vira como o mundo dá voltas e quem sabe no próximo verão Dali ou Van Gogh não pintam aquela página alba de novas histórias.

B. Bellato

Nenhum comentário: