14 de janeiro de 2015

Escrevendo para as saudades

     Escreverei para os mortos corações que não mais se amam. Escreverei para os distantes lábios que não mais se tocam e escreverei para as almas que não mais se comunicam como antes. Escrevereo para os velhos e jovens sentimentos do mundo que já foram bem melhores.
      Não citarei Rubem Alves, nem Caio, nem o vazio tão sagaz de Djavan ou Cazuza. Deixarei apenas em mais um momento de insônia palavras de quem acolhe o passado com as mãos de um jardineiro colhendo a primavera entre os dedos. A semelhança entre os poetas e eu é que colhemos lembranças. Já eu alimento-me delas e consequentemente vicio-me em procurar mais das sacanas.
     Apesar dos problemas mais convincentes de que uma vida adulta deve ser encarada com disciplina e a insegurança que bate na porta a todo momento, não é mais sobre elas que as emoções de meu corpo se expressam. Ele quer o que já teve de melhor.
     Ele suplica pelos melhores crepúsculos, pelos melhores sorrisos acalantados de carinho, suplica por amanheceres em êxtase noturno, e ainda implora por aquela pontinha de adrenalina nos melhores beijos. Ele deseja o melhor café da melhor viagem e também o melhor porre da bebebeira mais piegas dos ultimos verões. Ele deseja você, eu, nós e todos os que passaram. E todos novamente em sequência. Num ciclo de diversão, nostalgia e masoquismo.
     Se são apenas devaneios com os trinta graus do quarto eu não sei. Só sei que ainda continuarei escrevendo para os meus desejos assim como eles me fazem entender meu corpo.

B. Bellato
    

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