Eu danço. Na pista aberta entre as luzes fosforescentes de um lunático episódio ecstasiado de amor por mim mesmo. Eu danço. Descoordenadamente, entontecido sobre as batidas da rotina embaraçada. Entre um e outro prefiro dançar. Escolho dançar sobre o poço de estupidez sobre quem realmente somos e deixamos de ser.
Danço em nome do perdão. Do assumir de consequencias abaladas pela vontade de resolver-me diante dos leões da rotina. Danço na valsa do apego, e ao me pegar pisando no pé do parceiro resolvo trocar o ritmo. E mesmo com o Jukebox trocando a valsa romantica passada por uma gafieira malemomente eu prefiro trocar o disco e acabo num bolero de solidão.
Vovó certa vez me disse que cantar e dançar espantava as coisas ruins. Por instantes pensei em acreditar que um bailarino é feliz em quase toda sua vida. Papai já deixou-me claro que a felicidade da vida se encontra apenas nos melhores momentos. Então vovó tinha razão. Quem canta e dança sobre o seu pairar de problemas acaba encontrando a felicidade sobre as circunstancias.
Ouso em dizer que mesmo encontrando no cinismo das batidas eletrônicas a minha felicidade, apresento-me sobre o espelho de narciso. Não sei onde perdi o cavalheirismo das danças à dois. Ou até sei, mas prefiro resguardar as lembranças para se debruçar sobre uma bossa e recordá-las como Faz parte do meu show.
Eu dancei. Cai. Torci um dos tornozelos. Me fiz de orgulhoso. Sentei-me próximo ao bar. Resmunguei poucas palavras. Guardei outras e resolvi ver o salão dançar por si só. Apenas aguardo a próxima festa.
B. Bellato
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