21 de janeiro de 2015

Sobre a dança do Ego

     Eu danço. Na pista aberta entre as luzes fosforescentes de um lunático episódio ecstasiado de amor por mim mesmo. Eu danço. Descoordenadamente, entontecido sobre as batidas da rotina embaraçada. Entre um e outro prefiro dançar. Escolho dançar sobre o poço de estupidez sobre quem realmente somos e deixamos de ser.
    Danço em nome do perdão. Do assumir de consequencias abaladas pela vontade de resolver-me diante dos leões da rotina. Danço na valsa do apego, e ao me pegar pisando no pé do parceiro resolvo trocar o ritmo. E mesmo com o Jukebox trocando a valsa romantica passada por uma gafieira malemomente eu prefiro trocar o disco e acabo num bolero de solidão.
     Vovó certa vez me disse que cantar e dançar espantava as coisas ruins. Por instantes pensei em acreditar que um bailarino é feliz em quase toda sua vida. Papai já deixou-me claro que a felicidade da vida se encontra apenas nos melhores momentos. Então vovó tinha razão. Quem canta e dança sobre o seu pairar de problemas acaba encontrando a felicidade sobre as circunstancias.
     Ouso em dizer que mesmo encontrando no cinismo das batidas eletrônicas a minha felicidade, apresento-me sobre o espelho de narciso. Não sei onde perdi o cavalheirismo das danças à dois. Ou até sei, mas prefiro resguardar as lembranças para se debruçar sobre uma bossa e recordá-las como Faz parte do meu show.
     Eu dancei. Cai. Torci um dos tornozelos. Me fiz de orgulhoso. Sentei-me próximo ao bar. Resmunguei poucas palavras. Guardei outras e resolvi ver o salão dançar por si só. Apenas aguardo a próxima festa.

B. Bellato

Nenhum comentário: