25 de abril de 2011

Chronicles - “Na lua deserta das pedras do Arpoador...”

- Obrigado por estar aqui comigo.
- Eu que agradeço amigo.
Eram dois jovens de aparentemente vinte e poucos anos de idade. Sentados em frente ao mar, na pedra do Arpoador, às cinco da manhã, tornando o momento o mais irresistível de todos. O último eclipse lunar foi marcado por um belo momento, às 05h40min da manhã de um dezembro caloroso, a lua tornou-se completamente coberta.
- Sabe, não poderia viver sem isso. – O mais velho disse subitamente como uma forma de agradecimento pelo seu outro amigo estar junto a ele. Passando a mão em sua cabeça raspada, retirando a bandana vermelha relembrando o poeta meio bossa nova e rock n’ roll.
- E eu não poderia morrer sem isso. – O outro, doente, também agradeceu com um pequeno sorriso e seu olhar cansado.
Paulistanos, enfrentando algumas horas de uma viagem de carro até o Rio de Janeiro, Navid e Tiago, saíram da capital para realizar dois sonhos. Ver um eclipse pela primeira vez e visitar a cidade maravilhosa. Tiago sofria de uma espécie rara de câncer nos ossos, seus médicos davam-no poucos dias de vida. Navid, com fé na recuperação do amigo e da felicidade do mesmo, realizou seu sonho retirando-o do hospital com autorização médica, mas com a prescrição de voltar ao nascer do sol. Esperavam o amanhecer e junto com ele um resultado que poderia mudar os fatos.
- Coloque Cazuza no Ipod Navid. Preciso ouvi-lo. – Tiago, se apoiava fisicamente em Navid, e mentalmente em Cazuza. Admirava sua coragem de usar toda sua rebeldia também contra a morte. O sol aparecia no Arpoador com “Faz parte do meu show”. Os dois emocionados pelos dois momentos mais marcantes de suas vidas ouviram o celular de Navid tocar.
- É do hospital...
- Fale a eles que estamos voltando!
Navid atendeu o celular e repetiu as palavras do amigo, respondendo com um sim e um sorriso desligando o telefone.
- O resultado do teste de medula-óssea deu positivo. Você tem um doador. – Uma lágrima caia do rosto de Navid com um meio sorriso. Os versos de Cazuza terminavam no Ipod.


B. Bellato (Vulgo O Bellatore)

Um comentário:

Julia Iglesias disse...

Perfeito, perfeito...